Da febre de Luís Buñuel ao transe de Glauber Rocha

Ninguém ignora o diálogo maciço travado pelo cinema de Glauber Rocha (1939-1982) com a obra de Luís Buñuel (1900-1983), que siderou o cineasta brasileiro, marcou profundamente seus textos e filmes entre 1962 e 1971, e continuou merecendo sua admiração inabalável até sua morte em 1981. Atenta àquele diálogo de fundo, a palestra do Dr. Mateus Araújo (Universidade de São Paulo) se debruça mais especificamente sobre a relação travada por Terra em Transe (1967) com o filme franco-mexicano La fièvre monte à El Pao (1959) de Buñuel, que lhe serviu como uma das fontes principais de inspiração, mas cuja estratégia estilística, bastante comedida, o longa brasileiro radicaliza e tende a subverter. Para dimensionar tal subversão, a palestra examina em que medida os filmes integram à sua própria fatura (nos âmbitos da estrutura narrativa e da mise-en-scène) as metáforas políticas da febre e do transe, que eles constroem para figurar experiências históricas do autoritarismo na América Latina.