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Livros como objetos de arte: Um olhar sobre o acervo do IAI das Ediciones Vigía de Cuba

A biblioteca do IAI possui o acervo mais completo do mundo da editora cubana Ediciones Vigía, na qual cada livro é uma obra de arte feita à mão.

, Notícia

A biblioteca do Ibero-Amerikanisches Institut (IAI) possui, com cerca de 300 títulos, o maior acervo do mundo de obras da renomada editora cubana Ediciones Vigía, fundada em 1985 pelo ilustrador Rolando Estévez Jordán e pelo escritor Alfredo Zaldívar. Os livros da Ediciones Vigía são complexos objetos de arte, cuja produção se baseia em técnicas artesanais de impressão e coloca o próprio processo criativo da confecção do livro como elemento central da recepçãoda obra. A extraordinária combinação entre texto e imagem recupera séculos de história e tradições cubanas, reinterpretando-as à luz das realidades contemporâneas da ilha e contribuindo, assim, para a construção de uma identidade cubana moderna.

Papel de açougue, retalhos de tecido e flores secas

Originalmente, a Vigía surgiu como um ponto de encontro para escritores e artistas que se reuniam para discutir seus trabalhos. Dessa comunidade nasceram inicialmente folhetos que serviam como convites para encontros de artistas. Esse formato evoluiu posteriormente para uma iniciativa editorial independente. Na confecção de suas obras, a editora utiliza materiais reaproveitados — como papel de açougue, linha, retalhos de tecido, folhas, flores secas, papel alumínio etc. Cada livro é feito à mão na oficina de Matanzas, a cerca de 100 quilômetros a leste de Havana, resultando em exemplares únicos que, embora compartilhem o mesmo texto, formato e motivos visuais, podem diferir em detalhes artísticos. De cada título são produzidos no máximo 200 exemplares.

Nos primeiros anos, a Vigía publicou principalmente textos e poemas de autores cubanos pouco conhecidos, com o objetivo de aumentar a visibilidade de suas obras. Embora o processo de produção tenha mudado pouco desde a década de 1980, o repertório da editora se ampliou consideravelmente. Hoje, ela publica também textos de escritores de renome internacional, como Gabriel García Márquez, Hans Christian Andersen, Emily Dickinson e a celebrada poeta cubana Nancy Morejón.

Independência criativa

O símbolo da Vigía é uma lamparina a óleo, um objeto que se popularizou durante o chamado Período Especial em Cuba, quando frequentes apagões tornavam necessário o uso de lâmpadas a querosene. A sobrevivência da Vigía ao longo das décadas, mesmo em tempos de dificuldades financeiras, pode ser explicada por dois fatores centrais. Primeiro, a produção baseia-se em materiais encontrados e doados — uma prática que possui razões estéticas e ideológicas e reforça o compromisso da editora com a independência criativa. Segundo, os artesãos e artistas da Vigía trabalham de forma voluntária e os autores não recebem remuneração financeira por suas publicações.

Os colaboradores da Ediciones Vigía são internacionalmente reconhecidos pelo uso criativo de materiais cotidianos e pela criação de livros únicos e interativos. Obras da editora foram expostas, entre outros locais, no Museum of Modern Art (MoMA) e no Grolier Club, um prestigiado espaço para amantes de livros em Nova York. Outras bibliotecas de grande relevância internacional, como a British Library em Londres e a Library of Congress em Washington, também possuem publicações da Ediciones Vigía em suas coleções.

A biblioteca do IAI apresenta até 15 de novembro de 2025 uma pequena amostra de seu acervo em vitrines com livros dessa extraordinária editora.

Vitrine com livros feitos à mão com papelão e outros materiais
© Ibero-Amerikanisches Institut
Vitrine com livros feitos à mão com papelão e outros materiais
© Ibero-Amerikanisches Institut
Vitrine com livros feitos à mão com papelão e outros materiais
© Ibero-Amerikanisches Institut
Vitrine com livros feitos à mão com papelão e outros materiais
© Ibero-Amerikanisches Institut
Vitrine com livros feitos à mão com papelão e outros materiais
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Vitrine com livros feitos à mão com papelão e outros materiais
© Ibero-Amerikanisches Institut
Vitrine com livros feitos à mão com papelão e outros materiais
© Ibero-Amerikanisches Institut
Detalhe de um livro com colagem recortada, mostrando uma mão com um olho
© Ibero-Amerikanisches Institut, Foto: Thomas Imo / Photothek